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| | ESPAÇO CULTURAL | |
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Autor | Mensagem |
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Beladona
Número de Mensagens : 506 Localização : Algarve Data de inscrição : 25/09/2006
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Seg 16 Out - 12:17 | |
| Um poema de ANTÓNIO BOTTO (1897-1959),"Os Sonetos",As Canções de António Botto
É difícil na vida achar alguém
É difícil na vida achar alguém Que seja na verdade um grande amigo, E se assim penso-e com tristeza o digo, É porque o sei,talvez,como ninguém.
Se a amizede é um bem-e se esse bem Traz o conforto de um divino abrigo, Por mim,direi,que nunca mais consigo Iludir-me nas graças que ele tem.
Afectos,sacrifícios,lealdade!, Tudo se apaga ou fica na memória Se a ilusão dá lugar à realidade.
E ai daqueles que pensam na excepção: Acabam por ficar dentro da História De que a vida é um sonho e uma traição. | |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Sex 20 Out - 14:53 | |
| Vinicius de Moraes
A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre. |
| | | Beladona
Número de Mensagens : 506 Localização : Algarve Data de inscrição : 25/09/2006
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Sáb 21 Out - 14:27 | |
| De José Agostinho Baptista "Agora e na hora da nossa morte" Palavras Diz-me, diz-me que me ouves, que aí,no silêncio dos astros que não têm nome, as minhas palavras chegam como um cântico, como um eco de outras idades, diz-me sem medo que me vês mais perto dos candelabros, nos salões de incenso aonde regressei para ver-te, para dizer-te como isto dói, como os anjos me abandonam sempre que chega o Outono. | |
| | | Nuno Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Sáb 21 Out - 15:08 | |
| Este espaço cultural está uma maravilha. faz bem à alma, parar para ler tão belos trechos. Se me permitem darei aqui também o meu contributo, lembrando autores de que gosto muito:
Decepção , de Cida Villela
Suave, serenamente, Eu hoje acordei poesia. Passei o meu dia versando você, Olhava em seus olhos, Distantes dos meus, E a cada olhar, Por demais atento, Brotavam, em pensamento, Versos que seriam seus.
Então desejei amar você. Juntar palavras a te definir. Mas antes que eu conseguisse Definir-te em versos, Com um simples gesto, Mero falar, Conseguiste de súbito Meus versos quebrar
Literatura século XXI, Editora Blocos, 1998 - Rio de Janeiro, Brasil |
| | | Beladona
Número de Mensagens : 506 Localização : Algarve Data de inscrição : 25/09/2006
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Dom 22 Out - 12:57 | |
| Caro nuno Até que enfim vejo um elemento masculino a dar um "ar de sua graça" e pelos vistos com bom gosto pois oferece-nos um lindíssimo poema a todos. Um bem haja. Pela parte que me cabe vou só transpôr um pequeno poema de Saúl Dias do seu livro de poemas "Sangue" Sangue Versos escrevem-se depois de ter sofrido. O coração dita-os apressadamente. E a mão tremente quer fixar no papel os sons dispersos... É só com sangue que se escrevem versos. | |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Qua 25 Out - 2:04 | |
| Lindo, esse poema de Saúl Dias, minha cara amiga Beladona.
PARA VIVER UM GRANDE AMOR (Vinicius de Morais)
Para viver um grande amor, preciso é muita concentraçao e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... - nao tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada - Para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atençao como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitissimo cuidado com quem quer que nao esteja apaixonado, pois quem nao está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que nao existe amor sem fieldade - Para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il fault além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô - Para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, nao basta ser apenas bom sujeito; é preciso tb ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva tb, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista - muito mais, muito mais que na modista! - para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber coisinhas: ovos mexidos, camaröes, sopinhas, molhos, strogonoffs - comidinhas para depois do amor. E o que já de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto - pra nao morrer de dor. É preciso um cuidado permanente nao só com o corpo mas tb com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente - e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia - Para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que - que nao quer nada com o amor.
Mas tudo isso nao adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada nao se souber achar a bem-amada - Para viver um grande amor.
Ora aqui vos deixo, novamente Vinicius, com seus pensamentos, se o ler-mos bem atentos, há muito que aprender, bem hajam |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Qua 25 Out - 14:06 | |
| Após a minha ultima postagem sobre Aborto e Eutanásia, veio-me á memória este poema de Augusto Gil
BALADA DA NEVE
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração.
Augusto Gil, Luar de Janeiro |
| | | Beladona
Número de Mensagens : 506 Localização : Algarve Data de inscrição : 25/09/2006
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Qua 25 Out - 15:09 | |
| Caríssima Rosa Latina Pode não acreditar,mas estáva para colocar este poema aqui agorinha mesmo,primeiro,o meu marido já me tinha falado dele e quando o ia pôr e aqui venho,já você o tinha colocado,tivemos o mesmo pensamento. Há coisas interessantes... Um bem haja pelo seu finíssimo gosto artístico e nunca deixe de ser como é. Um abraço da Beladona | |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Qui 26 Out - 6:55 | |
| São as cores de ÁFRICA e do Brasil que nos libertam da gélida Europa. Um abraço. E já agora aqui deixo um belo poema, Letra e música: Chico Buarque; Ruy Guerra In: 1972-1973 Nivaldo
que é um hino à União sempre presente, entre Portugal e Brasil.
Fado Tropical
Oh, musa do meu fado Oh, minha mãe gentil Te deixo consternado No primeiro abril Mas não sê tão ingrata Não esquece quem te amou E em tua densa mata Se perdeu e se encontrou Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Sabe, no fundo eu sou um sentimental Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar Meu coração fecha aos olhos e sinceramente chora...''
Com avencas na *caatinga Alecrins no canavial Licores na moringa Um vinho tropical E a linda mulata Com rendas do Alentejo De quem numa bravata Arrebato um beijo Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
``Meu coração tem um sereno jeito E as minhas mãos o golpe duro e presto De tal maneira que, depois de feito Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito É que há distância entre intencão e gesto E se o meu coração nas mãos estreito Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta Ostento a aguda empunhadura à proa Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta Mais que depressa a mão cega executa Pois que senão o coração perdoa''
Guitarras e sanfonas Jasmins, coqueiros, fontes Sardinhas, mandioca Num suave azulejo E o rio Amazonas Que corre Trás-os-Montes E numa *pororoca Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal Ainda vai tornar-se um imenso Portugal Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
A caatinga ocupa uma área de 734.478 km2 e é o único bioma exclusivamente brasileiro. Isto significa que grande parte do patrimônio biológico dessa região não é encontrada em outro lugar do mundo além de no Nordeste do Brasil.
PS *A caatinga ocupa cerca de 7% do território brasileiro. Estende-se pelos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e norte de Minas Gerais.
A área total é de aproximadamente 1.100.000 km². O cenário árido é uma descrição da Caatinga - que na língua indígena quer dizer Mata Branca.
*A pororoca, é um fenômeno natural que conjuga beleza e violência no encontro das águas do mar com as águas do rio araguari. |
| | | Beladona
Número de Mensagens : 506 Localização : Algarve Data de inscrição : 25/09/2006
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Qui 26 Out - 17:41 | |
| Caríssima Rosa Latina Respondendo ao tópico da eutenásia e agora neste tópico para lhe dizer o quanto prezo e me honra estar neste forum tão simpático e livre de preconceitos a confraternizar com pessoas com uma paciência sem limites para me irem aturando,e com uma humanidade enorme.O que hoje em dia é uma raridade. Um bem haja do fundo do meu coração. Mais um lindo poema/canção que nos oferece,mais uma vêz bem haja. A seguir passo a transcrever mais um poema de Antero de Quental do livro de sonetos"Evolução" Fui rocha,emtempo,efui,no mundo antigo, Tronco ou ramo na incógnita floresta... Onda,espumei,quebrando-me na aresta Do granito,antiquíssimo inimigo... Rugi,fera talvez,buscando abrigo Na caverna que ensombra urze e giesta; Ou,monstro primitivo,ergui a testa No limoso paul,glauco pascigo... Hoje sou homem-e na sombra enorme Vejo,a meus pés,a escada multiforme, Que desce,em espirais,na imensidade... Interrogo o infinito e às vezes choro... Mas,estendendo as mãos no vácuo,adoro E aspiro unicamente à liberdade. | |
| | | Nuno Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Seg 30 Out - 12:52 | |
| [quote="Beladona"]Caro nuno Até que enfim vejo um elemento masculino a dar um "ar de sua graça" e pelos vistos com bom gosto pois oferece-nos um lindíssimo poema a todos. Um bem haja. .[/quote
Cara Senhora, gosto muito de poesia, então, António Aleixo, adoro. Claro que confesso que só passei a gostar depois de me explicarem o seu sentido. Deixo aqui um poema de que gosto muito, especialmente quando mo declamam e explicam.
Abraço a todos.
Rosa.
Chamam-te Rosa, minha preta formosa,
E na tua negrura
Teus dentes se mostram sorrindo.
Teu corpo baloiça, caminhas dançando,
Minha preta formosa, lasciva e ridente
Vais cheia de vida, vais cheia de esperança
Em teu corpo correndo a seiva da vida
Tuas carnes gritando
E teus lábios sorrindo...
Mas temo a tua sorte na vida que vives,
Na vida que temos..
Amanhã terás filhos, minha preta formosa
E varizes nas pernas e dores no corpo;
Minha preta formosa já não serás Rosa,
Serás uma negra sem vida e sofrente,
Serás uma negra
E eu temo a sua sorte.
Minha preta formosa não temo a tua sorte,
Que a vida que vives não tarda a findar...
Minha preta formosa, amanhã terás filhos
Mas também amanhã...
... amanhã terás vida!
Amílcar Cabral (Cabo Verde) in Revista "Mensagem",
Ano I, nº 6, Janeiro de 1949 |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Qua 1 Nov - 13:17 | |
| Sugestão literária: O Rei Amado Alberto Vázquez-Figueroa Na mancha do sangue luso e infiel, desapareceel-Rei de Portugal! E assim começa a lenda… A história de D. Sebastião de Portugal pela mão do autor espanhol Alberto Vázquez-Figueroa . Quero que leves contigo um prisioneiro, o mantenhas oculto no mais distante e inacessível dos teus oásis e guardes silêncio eterno sobre quem é e quem to confiou. De El-Rei Sebastião não há notícia certa desde Agosto de 1578, altura em que, moço cavaleiro, impetuosamente se internou na chusma dos árabes e berberes norte-africanos que combatiam, em Alcácer-Quibir, e desapareceu. Segundo reza a História, desapareceu. De acordo com a lenda, desapareceu… mas não morreu. Voltaria a Portugal, numa manhã de nevoeiro, para expulsar o tio, Filipe de Espanha, que se apoderara do seu trono. O Rei Amado situa o desaparecimento de El-rei Desejado numa complicada trama e maquinações de interesses cruzados de potências europeias do último quartel do século XVI: de Filipe de Espanha ao papa Clemente VIII, dos reis mouros que o venceram às repúblicas italianas. Seguindo o estilo de Os Três Mosqueteiros ou O Conde de Monte Cristo, Alberto Vázquez-Figueroa aproveita as lacunas de informação que rodeiam certos factos históricos, em que algumas personagens operaram feitos que entraram parcelarmente na lenda, e oferece-nos um retrato de um rei que foi amado pelo seu povo como nenhum outro soberano o foi. «Um esplêndido e original romance. Alberto Vázquez-Figueroa parte do imaginário popular lusitano e do misticismo secular português, que influenciou poetas como Luís Vaz de Camões ou Fernando Pessoa, para recriar uma lenda até ao limite daquilo que é historicamente admissível, sem tropeçar nos cânones habituais do relato épico. O resultado é um formidável romance, muito bem cadenciado, e de onde sobressaem os diálogos precisos e as descrições bem medidas e sem pretensões.» El Periódico de Cataluñya |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Qua 1 Nov - 13:31 | |
| Deixo-vos aqui a letra de um poema, cantado e composto por Sérgio Godinho, escrito há já tanto ano, mas que continua a enquadrar-se "que nem uma luva", neste nosso Portugal.
Não Te Deixes Assim Vestir...
Ai, Portugal dar-te conselhos é bem pouco original (mas) se realmente não quiseres querer-te mal olha p´ra ti, ó Portugal e não te deixes assim vestir
O meu país foi outro dia ao alfaiate encomendar "toilettes" novas p´ro mundo se embasbacar e se dizer, e se elogiar que bem, que chique que beleza para falar com franqueza parece outro com esse ar
Mas há coletes que são de forças por mais que o digam não ser não te deixes assim vestir não te deixes assim vestir
Ao meu país o alfaiate respondeu: venha cá quero saber com que linhas se coserá o fato feito que fará a sensação das redondezas bem que eu não tenha a certeza que seja de elogiar
O meu país outrora usando fraque, luva e paletó se rebentar pelas costuras, é só que o fato que é da trisavó não é necessariamente aquele que no presente nos fará soltar um "oh!"
Porque há coletes que são de forças por mais que o digam não ser não te deixes assim vestir não te deixes assim vestir |
| | | Beladona
Número de Mensagens : 506 Localização : Algarve Data de inscrição : 25/09/2006
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Qua 1 Nov - 14:48 | |
| Cara amiga Rosa Latina boa sugestão de leitura e mais um belo oema/canção,bem haja. Ao ler o lindo poema do nosso amigo Nuno lembrei-me de um outro poema de Florbela Espanca do livro Sonetos e intitulado ROSEIRA BRAVA Há nos teus olhos de oiro um tal fulgor E no teu riso tanta claridade, Que o lembrar-me de ti é ter saudade Duma roseira brava toda em flor. Tuas mãos foram feitas para a dor, Para os gestos de doçura e piedade; E os teus beijos de sonho e de ansiedade São como a alma a arder do próprio Amor! Nasci envolta em trajes de mendiga; E, ao dares-me o teu amor de maravilha, Deste-me o manto de oiro de rainha! Tua irmã...teu amor...e tua amiga... E também,toda em flor,a tua filha, Minha roseira brava que é só minha!... | |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Sex 3 Nov - 13:11 | |
| Maravilhoso esse poema de Espanca, bem como tudo o que Espanca escreveu. Foi realmente uma mulher extraordinária, de uma sensibilidade extrema. Marabá, de Gonçalves Dias "Eu vivo sozinha, ninguém me procura! Acaso feitura Não sou de Tupá! Se algum dentre os homens de mim não se esconde: - "Tu és", me responde, "Tu és Marabá!" [...] E as doces palavras que eu tinha cá dentro A quem nas direi? O ramo d'acácia na fronte de um homem Jamais cingirei: Jamais um guerreiro da minha arazóia Me desprenderá: Eu vivo sozinha, chorando mesquinha, Que sou Marabá!" Marabá chora por não ser mais índia nem européia. É a síntese da perda de identidade, por mais linda que seja, mas por não pertencer a nenhum povo, todos a rejeitam. E quem foi Gonçalves Dias? Gonçalves Dias (Caxias MA 1823 - Baixo dos Atins MA 1864) estudou Direito em Coimbra, Portugal, entre 1840 e 1844; lá ocorreu sua estréia literária, em 1841, com poema dedicado à coroação do Imperador D. Pedro II no Brasil. Em 1843, escreveria o famoso poema Canção do Exílio. De volta ao Brasil, foi nomeado Professor de Latim e secretário do Liceu de Niterói, e iniciou atividades no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Nos anos seguintes, aliou a intensa produção literária com o trabalho como colaborador de vários periódicos, professor do Colégio Pedro II e pesquisador do IHGB, que o levou a fazer várias viagens pelo interior do Brasil e para a Europa. Em 1846, a publicação de Primeiros Cantos o consagraria como poeta; pouco depois publicaria Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão (1848) e Últimos Cantos (1851). Suas Poesias Completas seriam publicadas em 1944. Considerado o principal poeta da primeira geração do Romantismo brasileiro, Gonçalves Dias ajudou a formar, com José de Alencar, uma literatura de feição nacional, principalmente com seus poemas de temática indigenista e patriótica. |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Seg 6 Nov - 14:53 | |
| Em especial, para a minha amiga Beladona, um poema de Vinicius, um cantar, à liberdade:
Vinícius de Morais
Ai, quem me dera terminasse a espera Retornasse o canto simples e sem fim E ouvindo o canto se chorasse tanto Que do mundo o pranto se estancasse enfim
Ai, quem me dera ver morrer a fera Ver nascer o anjo, ver brotar a flor. Ai, quem me dera uma manhã feliz. Ai, quem me dera uma estação de amor
Ah, se as pessoas se tornassem boas E cantassem loas e tivessem paz E pelas ruas se abraçassem nuas E duas a duas fossem ser casais
Ai, quem me dera ao som de madrigais Ver todo mundo para sempre afim E a liberdade nunca ser demais E não haver mais solidão ruim
Ai, quem me dera ouvir o nunca-mais Dizer que a vida vai ser sempre assim E, finda a espera, ouvir na primavera Alguém chamar por mim. |
| | | Beladona
Número de Mensagens : 506 Localização : Algarve Data de inscrição : 25/09/2006
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Seg 6 Nov - 18:26 | |
| Um bem haja cara amiga RosaLatina pelo lindo poema de Vinicius de Morais que me ofereceu,muito obrigada pelas suas palavras. Dedico-lhe também este poema de um an´nimo DEFINIÇÃO DO AMOR É um nada Amor que pode tudo, É um não se entender o avisado, É um querer ser livre e estar atado, É um julgar o parvo por sisudo; É um parar os golpes sem escudo, É um cuidar que é e estar trocado, É um viver alegre e enfadado, É não poder falar e não ser mudo; É um engano claro e mui escuro, É um não enxergar e estar vendo, É um julgar por brando ao mais duro; É um não querer dizer e estar dizendo, É um no mor perigo estar seguro, É,por fim,um não sei quê,que não entendo. | |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Ter 7 Nov - 12:02 | |
| Caro, Beladona, que maravilha. Será que esse anónimo não publicará sua poesia? Lindo mesmo, obrigada. |
| | | Beladona
Número de Mensagens : 506 Localização : Algarve Data de inscrição : 25/09/2006
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Seg 13 Nov - 13:29 | |
| Especialmente para a RosaLatina um poeta que eu muito aprecio-Carlos Drummond de Andrade e que é do seu imenso e amado Brasil. Da sua Antologia poética
AMAR
Que pode uma criatura senão, entre criaturas,amar? amar e esquecer, amar e malamar,amar,desamar,amar?sempre,e até de olhos vidrados,amar?
Que pode,pergunto,o ser amoroso, sozinho,em rotação universal,senão rodar também,e amar? amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta,e o que,na brisa marinha, é sal,ou precisão de amor,ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante, e amar o inóspito,o cru, um vaso sem flor,um chão de ferro, e o peito inerte,e a rua vista em sonho,e uma ave de rapina.
Este o nosso destino:amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente,de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,e na secura nossa amar a água implícita,e o beijo tácito,e a sede infinita. | |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Seg 13 Nov - 14:29 | |
| Minha cara amiga, eu também "venero", Carlos Drummond de Andrade, muito obrigada por sua gentileza, um grande abraço |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Ter 14 Nov - 6:39 | |
| Antimemória
Viemos do mundo para o mundo do nosso lugar para o lugar e perdemos a memória de onde viemos só o ar que respiramos nos não custa o esforço visível dor mínima dor habituada em tecidos que se usam e se rompem o resto é nunca nos inscrevermos senão com violência entre as acumuladas pedras da cidade (ou) sobre o caprichoso húmus inventando o esquecimento e perseguindo a inventada liberdade do infinito sempre interrogando um regresso uma despedida suamos a passagem soamos a rangente esperança somos amos desta soma de anos não somados consolamentum excomungado redenção crucificada sabemos que acabar lutando é começar e da beleza é tudo o que sabemos
[in, Memória, 1971] , Álvaro Guerra |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Dom 19 Nov - 8:12 | |
| Amanhã, ninguém sabe Chico Buarque/1966 Hoje, eu quero Fazer o meu carnaval Se o tempo passou, espero Que ninguém me leve a mal Mas se o samba quer que eu prossiga Eu não contrario não Com o samba eu não compro briga Do samba eu não abro mão Amanhã, ninguém sabe Traga-me um violão Antes que o amor acabe Traga-me um violão Traga-me um violão Antes que o amor acabe Hoje, nada Me cala este violão Eu faço uma batucada Eu faço uma evolução Quero ver a tristeza de parte Quero ver o samba ferver No corpo da porta-estandarte Que o meu violão vai trazer Amanhã, ninguém sabe Traga-me uma morena Antes que o amor acabe Traga-me uma morena Traga-me uma morena Antes que o amor acabe Hoje, pena seria esperar em vão Eu já tenho uma morena Eu já tenho um violão Se o violão insistir, na certa A morena ainda vem dançar A roda fica aberta E a banda vai passar Amanhã, ninguém sabe No peito de um cantador Mais um canto sempre cabe Eu quero cantar o amor Eu quero cantar o amor Antes que o amor acabe |
| | | Beladona
Número de Mensagens : 506 Localização : Algarve Data de inscrição : 25/09/2006
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Dom 19 Nov - 14:41 | |
| Cara amiga só posso dizer:Lindo! Aqui vai um poema de amor do nosso grande Luís de Camões Busque Amor novas artes,novo engenho, para matar-me,e novas esquivanças, que não pode tirar-me as esperanças, que mal me tirará o que eu tenho. Olhai de que esperanças me mantenho! Vede que perigosas seguranças! Que não temo contrastes nem mudanças, andando em bravo mar,perdido o lenho. Mas,conquanto não pode haver desgosto onde esperança falta,lá me esconde Amor um mal,que mata e não se vê, Que dias há que n'alma me tem posto um não sei quê,que nasce não sei onde, vem não sei como,e dói não sei porquê. | |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Seg 20 Nov - 11:07 | |
| Realmente...Camões é eterno, não tem época, nem geração, ninguém como ele soube cantar o "amor" e o "ilustre peito lusitano".
Um abraço |
| | | RosaLati Convidado
| Assunto: Re: ESPAÇO CULTURAL Seg 20 Nov - 17:25 | |
| O Rei do Mar Muitas velas. Muitos remos. Âncora é outro falar... Tempo que navegaremos não se pode calcular. Vimos as Plêiades. Vemos agora a Estrela Polar. Muitas velas. Muitos remos. Curta vida. Longo mar.
Por água brava ou serena deixamos nosso cantar, vendo a voz como é pequena sobre o comprimento do ar. Se alguém ouvir, temos pena: só cantamos para o mar...
Nem tormenta nem tormento nos poderia para. (Muitas velas. Muitos remos. Âncora é outro falar...) Andamos entre água e vento procurando o Rei do Mar.
Cecília Meireles |
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