Um bem hajam,
Noto que quando debatemos sobre questões de cariz social, que muitas vezes deixamos que valores ou crenças de cariz pessoal toldem as nossas posições.
É lógico que ninguêm diz que devemos deixar de acreditar no que acreditamos, afinal, é isso que faz de nós quem somos... pelo menos ajuda.
Mas quando estamos a julgar cada situação podemos e até devemos, sob o pretexto de perdermos toda a credibilidade quanto à validade das nossas posições, usar somente argumentos, a favor ou contra, válidos do âmbito das questões em si.
A título de exemplo, quem gostaria de ser julgado por uma situação, sabendo que o Juíz que vai presidir a esse julgamento é tendenciosamente a favor de um qualquer clube de futebol que por acaso até é o mesmo do advogado de acusação e contrário ao nosso?
Eu acredito na Lei, mas quando esta é aplicada de forma correcta, ou seja, livre de qualquer preconceito pré-estabelecido.
Ora, no fundo é de situações semelhantes que estamos aqui a tratar.
Quando se fala de Casamentos Civis entre Homosexuais, Despenalização do Aborto, Eutanásia, etc..
Temos de ser capazes de ver estas questões sob um olhar crítico, mas cingido à questão em si e não a questões de princípios ou valores pessoais.
Gostei do exemplo que um amigo nosso deu no fórum Monarquia-Portugal, ao dizer que o Rei da Bélgica por não se sentir capaz de separar as coisas, abdicou por um dia de modo a não impedir o desejo do seu povo.
Afastou-se de um processo de decisão, ao qual não conseguia participar sem entrar em conflicto com os seus valores, ou seja não conseguindo ser imparcial.
Tenho tido muitas e interessantes, para além de instructivas, discussões com defensores de prós e contras, relativamente aos casos por mim aqui apresentados.
E encontro, de ambos os lados, pessoas que se esforçam por tentar perceber o outro lado sem entrar em insinuações ou cair em insultos e que argumentam e contra-argumentam usando situações válidas.
Estas questões são complexas e não se altera uma posição de um dia para o outro ou ao fim de uma discussão.
São precisas várias discussões e argumentos para que a semente da dúvida ou da certeza se enraize.
Não quero com isto dizer que tenho ou não razão, ou que um lado é melhor que o outro.
Mas somente que para se avançar temos de estar dispostos a ouvir e a ceder.
E se não estamos, então mais vale afastarmo-nos como o Rei da Bélgica e deixar que aqueles que o conseguem avançem e tomem a palavra.
Um bem hajam,
IzNo