Tomo a liberdade de passar a transcrever uma crónica que saiu na revista de sábado do jornal 24 Horas, dia 07-07-07, da bióloga/escritora Clara Pinto Correia-O Fio da Navalha-
Aos nossos orgulhos
Tenho um amigo, um jovem da minha idade, que é advogado, é gay, e adoptou há tempos uma menina asiática de três anos.Perguntei-lhe se fantasias como a Gay Pride Parade contribuiriam mesmo para sensibilizar o país para os dramas da homofobia. Ele mandou-me uma resposta que me comoveu até às lágrimas e que passo a partilhar convosco alguns excertos. Não podia estar mais de acordo.
"Olha, Clara, em portugal tu tens tipos como o José Mattoso a dizer no 'Expresso', em Abril, numa entrevista:
-Mas ainda se revê no partido?
-Já não me revejo e não me sinto obrigado a ser um militante que apoia todas as suas iniciativas ou colabora nas suas estratégias ou orientações. Quando denuncia as coisas erradas estou com o Bloco, mas se resolve lutar pelo casamento entre homossexuais estou contra o Bloco.
O que tento dizer-te é que as coisas passam mais pela parte emocional individual, e estes tipos tão modernos, de esquerda, tão humanistas e progressistas tropeçam que nem tordos nestas nestas questões elementares dos direitos humanos. É tão emocional (e educacional) que não conseguem ter distância para perceber que estão a assassinar conceitos elementares de democracia como é o respeito pelos outros.
Repara, um tipo e uma tipa que se abracem é amor, se forem dois tipos é exibicionismo e estão a impôr aos outros o seu estilo de vida...Se um tipo coça os tomates, escarra para o chão e diz a uma gaja que a comia toda é um castiço, enquanto um tipo que se pavoneia e se 'parte todo' a andar e com gestos femininos é uma vergonha e merecia um linchamento. Faz-me lembrar aqueles grupos católicos nos EUA que são contra uma lei contra os crimes de ódio porque vai contra o seu direito democrático a lutarem contra a homossexualidade...
Por isso, percebo que faça sentido a saída de notícias sobre o tema, de vulgarização do tema, de convívio com o tema. Quando eu fui pai nem se falava sobre pais homossexuais. Agora até já há sndagens sobre o casamento e adopção gay.
Nunca me entusiasmaram as manifestações de massas, mas percebo que façam sentido, politicamente falando. Do ponto de vista mediático é eficaz. Claro que há o folclore, que é o que as televisões vão querer captar, mesmo que sejam só 10 travestis,em mil pessoas...
Nunca desejei ser "tolerado" por ninguém. O que eu gostava mesmo era que um dia eu tivesse o direito à indiferença se estivesse abraçado ao meu companheiro na rua e lhe desse um beijo.
Quando expliquei à Catarina que havia pessoas que não gostavam de outras por terem outra cor da pele, de outro clube de futebol, de rezarem de maneira diferente, de serem de outro país ou por namorarem pessoas do mesmo sexo, ela respondeu-me com a pergunta:
'-Mas eles não sabem que a coisa mais importante é o amor?'
Mas a Catarina é uma criança de 6 anos, não é um intelectual com a craveira do José Mattoso."
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Efectivamente, não posso deixar de estar em completa sintonia com este advogado e a sua filha:O Amor, é a coisa mais importante do Mundo,se houvesse de facto amor entre todas as pessoas, não haveria o que vemos à nossa volta a todos os níveis.
Beladona